Nelson Valêncio – 05.11.2020 –
Há vários lugares comuns sobre os provedores regionais, incluindo aquele que diz que eles formam uma quarta operadora do país. Mas os lugares comuns, assim como várias expressões populares, muitas vezes resumem melhor os cenários. O anúncio recente da Americanet, um provedor de tamanho médio, reforça isso. A operadora iniciou testes de 5G em parceria com a Nokia, usando a cidade de Pindamonhangaba como base das avaliações. Os resultados, segundo a Americanet devem ser compartilhados com outros provedores e o objetivo é um só: ajudar a capacitar esse mercado para a missão de ativar o 5G no interior do Brasil.
Para quem não leva o assunto a sério um aviso: muitos provedores estão envolvidos com projetos de digitalização de agronegócios e de empresas em locais remotos, caso de mineradoras. Tendo uma rede de fibra óptica consolidada e em expansão, os provedores têm todas as condições de movimentar o tráfego gerado nas pontas pelo 5G. Apesar de viverem num cenário basicamente cabeado, o mundo sem fio não é novidade para os provedores, pois eles começaram com uma infraestrutura de rádio e muitos mantêm uma rede desse tipo bem ativa. É óbvio que redes de rádio convencional são diferentes da tecnologia de 5G, mas parcerias como a da Americanet com a Nokia vão trazer experiências.
Enquanto a quinta geração não vem, os provedores atentos já fazem uma transição importante. Estamos falando de deixar de ser apenas um fornecedor de acesso à internet para avançar em pelo menos dois universos, que são os de serviços de telecomunicações e de segurança eletrônica. Um terceiro universo, que pode englobar os dois anteriores é o de cidades inteligentes. A diferença é o público alvo, ou seja, assinantes onde a rede já instalada e parcerias com municípios a partir de processos normais de licitação. Independente do mercado, os provedores, como disse, estão em transição para se tornarem empresas de perfil tecnológico. High tech mesmo.
Aprendi um pouco sobre essa transição pela parceria do InfraROI com o FTTH Meeting, envolvendo ainda o site IPNews, na defesa da chamada infraestrutura digital. E também tive boas lições de uma série de seminários online conduzidos pela Intelbras, um player que vem se destacando no universo dos provedores. Os exemplos são vários, mas o caminho de evolução é claro: estamos deixando para trás o universo dos ISPs ou provedores de serviço de internet, que é a tradução da sigla em inglês, para um perfil diferente. O mais importante é que os provedores têm uma rede ativada e já chegaram ao cliente final, seja residencial ou corporativo.
A partir dessa cabeça de praia eles podem avançar para uma oferta mais ampla de equipamentos e serviços. A lista inclui desde a telefonia inteligente a fechaduras digitais, passa pela oferta até de tomadas mais adequadas para substituir soluções improvisadas de benjamins ou tomadas em T que acomodam vários aparelhos e que é a dor de cabeça dos técnicos instaladores quando chegam no cliente residencial para ativar os serviços. Eles precisam de tomadas livres para ligar os chamados CPE, outra sigla em inglês que resume os equipamentos que são instalados no assinante.
Os provedores, na nova configuração de empresas de serviços high tech e não mais meros fornecedores de internet, têm a chance de ampliar sua presença oferecendo PABX na nuvem, aparelhos de telefonia IP e até videoporteiros que permitem o acesso remoto e a abertura de portas sem que o morador esteja presente no local. A lista é quase infinita e inclui serviços de armazenamento na nuvem para pequenas e médias empresas e sistemas de vigilância com câmeras IP inteligentes. O céu é o limite, desde que os provedores se atentem para a necessidade de ter uma rede eficiente e parceiros estratégicos, incluindo fabricantes e integradores para os serviços que não têm interesse ou expertise para assumir.
O interessante do universo dos provedores é que ele cresceu nessa crise da Covid-19. Assim como outros setores que não pararam, incluindo os de mineração e construção civil, o segmento de telecomunicações talvez nunca tenha sido tão acessado. Como as grandes operadoras não vão avançar geograficamente ou em nichos de mercado que não tenham resultados satisfatórios para elas, as operadoras de pequeno e médio porte podem ganhar ainda mais terreno. Só lembrando Darwin e a dica de que os sobreviventes serão aqueles que se adaptarem melhor ao novo ambiente.
(*) O InfraDigital é um projeto comum de conteúdo do InfraROI e o do IPNews. Para informações sobre o formato, consulte Jackeline Carvalho (jackeline@cinterativa.com.br), Nelson Valêncio (nelson@canaris-com.com.br) ou Rodrigo Santos (rodrigo@canaris-com.com.br).