Especialista defende o compartilhamento de redes como uma das soluções urgentes para a organização dos cabeamentos aéreos em cidades brasileiras.
Há normas e legislações o suficiente para a organização adequada das redes fixadas nos postes. O problema é que elas não são cumpridas. Esse é o diagnóstico resumido do consultor Marcius Vitale, que tem se empenhado em vários grupos de trabalho na busca de soluções para o ordenamento de redes aéreas. O não cumprimento das regras, ele pondera, não ocorre simplesmente por negligência das operadoras e provedores de internet (ocupantes). O contexto é amplo e a sua compreensão é inevitável um avanço que livre as nossas vistas da confusão de fios que estamos nos acostumando a ver nas cidades brasileiras.
De início, Vitale clama pelo resgate da engenharia. Segundo ele, o setor de telecomunicações abdicou das boas práticas de engenharia, desenvolvidas e aplicadas antes da privatização, e isso está explicitado na maneira com que empresas lançam cabeamentos a revelia e fazem a manutenção de forma ainda mais precária, colocando em risco a vida dos trabalhadores e de terceiros como pedestres e motoristas de veículos pesados. “Comparo com a época da Telebras, quando tínhamos normas e procedimentos de engenharia seguidos à risca. Claro que pondero a diferença, pois naquela época o cenário era bem mais tranquilo, com apenas uma rede de telecomunicações fixada nos postes”, diz.
Com a privatização e o espaço aberto a novos concorrentes no setor, o rigor nos procedimentos e fixação e manutenção de redes foi se flexibilizando. Na última década, a explosão do mercado de provedores regionais para atender à alta demanda da população por conexão de banda larga tornou o cenário caótico e agora as concessionárias de energia elétrica, prefeituras e o setor de telecomunicações estudam saídas para reverter o cenário. “A situação atual é complexa, pois temos redes de TV a cabo, redes de cabos metálicos e ópticos de operadoras e provedores de internet, redes primárias e secundárias de energia, transformadores, braços de iluminação pública, amplificadores e dispositivos como armários de distribuição aéreos, caixas de emenda óptica, reservas técnicas e dezenas de canos galvanizados para subidas de lateral (eles interligam as caixas subterrâneas com a rede aérea)”, diz Vitale.
Com todos esses agentes, há por parte da concessionária de energia elétrica a determinação de um espaço para a instalação de outras redes que não sejam as suas próprias. Geralmente, ele é estipulado em 500 mm, onde cabem seis pontos de fixação, distantes 100 mm uns dos outros. “É essa a faixa na qual as operadoras e provedores podem apoiar os seus cabeamentos”, pontua Vitale.
Em cada um desses pontos, o conjunto de cabos ali postos não pode passar do diâmetro de 65 mm, incluindo a cordoalha, que costuma ocupar 5 mm. “Grosso modo, isso significa a possibilidade de passar cerca de 60 cabos de fibra óptica na faixa pré-determinada. De modo organizado, essa infraestrutura poderia suprir a prestação de serviço dos provedores e demais ocupantes”, avalia Vitale.
Compartilhamento de redes é parte da solução
Para o especialista, parte da solução passa pelo compartilhamento de infraestruturas, mas esse é um processo que exige devida organização, com um gestor responsável e com a avaliação minuciosa de cada cenário individualmente. “Sem gestão há indigestão”, brinca o consultor. “Na verdade, não há solução pronta. Cada projeto precisa analisar as condições do entorno para minimizar perdas nas implantações de redes ópticas. Além disso, é preciso considerar as condições físicas dos postes e do subsolo, as exigências das prefeituras, as normas técnicas, normas de segurança do trabalho e outros parâmetros”, diz.
Com o apoio e expertise de alguns profissionais e conhecimento das reais situações verificadas no campo, Vitale está finalizando estudos para projetos de ordenamento das redes aéreas, utilizando alguns dispositivos de baixo custo com aproveitamento quase integral dos cabos instalados. “Este assunto será apresentado em breve ao mercado”, conclui.
(*) O InfraDigital é um projeto comum de conteúdo do InfraROI e o do IPNews. Para informações sobre o formato, consulte Jackeline Carvalho (jackeline@cinterativa.com.br), Nelson Valêncio (nelson@canaris-com.com.br) ou Rodrigo Santos (rodrigo@canaris-com.com.br).